sexta-feira, 30 de abril de 2010

Será que tem livro de reclações?

Uma Aventura...na Escola

Isabel Alçada é uma figura simpática. Fez, por este país, mais do que todos os membros do Governo juntos, porque fez dezenas ou centenas de milhar de crianças ter gosto pela leitura, através dos livros que escreveu com Ana Maria Magalhães.

Infelizmente, a sua presença neste Executivo está a ser marcada pela irrelevância. Tirando a mudança de estilo - de facto a Milu era execrável - limita-se a cumprir o calendário pré-definido por Sócrates, o que acontece com toda a gente neste Governo (Teixeira dos Santos será o que tem mais peso autónomo, mas até este está farto de aturar o mau feitio do chefe).

A política de educação dos Governos desde Cavaco Silva tem sido de uma irresponsabilidade absoluta. Revisão inexplicável dos currículos, experiências dignas de um cientista louco, os alunos meras cobaias de vaidades de quem quer que estivesse, nessa altura, no ministério.

Nos anos de Sócrates, um aldrabão que vive de aparências, a obsessão dos responsáveis passou por um princípio básico: para melhorar o sucesso escolar, nada melhor que...passar toda a gente. É genial, não sei como ninguém pensou nisso antes.

Cada vez se aprende pior, mas cada vez temos menos reprovados. Bravo, grande líder Sócrates.

A última aventura do Governo é a revisão do Estatuto do Aluno. 

Até aqui, o sistema era já uma merda. Vejam-se as faltas. Um aluno podia faltar o que bem entendesse mas, ao fazê-lo corria o risco de chumbar. Corria o risco, atenção, isto não é automático. Não, coitadinhos dos meninos, lá se ia fazer uma coisa dessas à geração mais privilegiada que este país alguma vez teve.
O sistema era giro. Para quem tivesse muitas faltas não justificadas, havia uma "prova de recuperação". Basicamente um puto podia faltar o ano todo, e fazer essa "prova de recuperação". E o que acontecia se chumbasse nessa prova? Chumbava? Não, apenas corria esse risco. A decisão cabia, nesse caso, ao conselho de turma, que podia então tomar a decisão de "reter o aluno". Espectáculo.

Mas agora, achando eventualmente que mesmo isto era ser muito duro com os meninos, acabou-se essa possibilidade de o tirano conselho de turma reter no mesmo ano um coitado de um aluno que faltou o ano todo e conseguiu chumbar na "prova de recuperação". Finamente alguém teve bom senso.

Agora, a consequência é o aluno ser submetido a "medidas cautelares", como fazer trabalhos na escola.

Mas pode passar na boínha.

E a ministra Isabel Alçada explica: "Sentimos que não devemos associar a ausência da escola à repetência". Bravo. É tão boa que vou experimentá-la no meu trabalho. Não apareço um ano inteiro, a ver se eles me aumentam.

Para além da aberração que tudo isto constitui, também gostei muito da reacção do BE e do PCP, que "lamentam o sentido punitivo das alterações". Pá, foda-se, vão cagar para a mata. Vão voar no meio das libelulazinhas, fumar grandes bongos, deixar crescer a sovacada e não tomar banho. Punitivo? What the fuck?! Punitivo era o meu paizinho, que se eu chumbasse por faltas me enfardava pela medida grande. E saí direitinho.

Já chega desta pseudo-esquerdice lírica e idiota, que trata todos os meninos como coitadinhos. Estão a criar uma bela geração, assim.

Termino esta já longa mensagem com as palavras de Maria do Rosário Gama, directora de uma Escola Secundária e, curiosamente, militante socialista: "Continua a promover-se uma cultura de facilitismo com o objectivo de promover o sucesso nas estatísticas a qualquer preço. Não faz sentido substituir as provas de recuperação por medidas de apoio pedagógico diferenciadas que já são aplicadas, nem continuar a proteger os alunos que faltam sistematicamente e de forma injustificada. De que serve suspendê-los se as faltas não contam para nada? Sei que isto não é politicamente correcto, mas os chumbos deviam voltar".

Ah, fascista do caralho!

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Quo vadis?

Voltando, de forma rápida, à crise.

As agências de rating não são culpadas. Estão a fazer aquilo para que foram criadas. E para mim não colhe o argumento de que não podem dizer nada porque falharam na génese da crise.
Falharam porque foram demasiado complacentes e não foram suficientemente exigentes com as condições de estados e empresas para pagar o que deviam. Estão agora, e muito bem, a ser mais exigentes. Não podemos criticá-las por terem sido laxistas e criticá-las por serem, agora, exigentes e picuinhas.

Uma coisa é certa, os mercados estão em cima de nós e não nos vão largar. Não quero aqui discutir os culpados (já lá iremos), mas é preciso fazer alguma coisa.

E o Governo, anestesiado e desgastado por falta de credibilidade, escândalos e, francamente, sem condições mínimas para continuar a governar, só reage. Não age. Deixou que um pirralho de merda como o Passos Coelho desse uma pinta de homem de Estado, o que mostra bem a desorientação de Sócrates.

E, depois de dois dias de reuniões e conversa, o que temos?

Descida do limite mínimo do subsídio de desemprego e deixar em stand by a construção de uma das 11 (!) novas estradas programadas. Segue TGV, impostos sobre a banca iguais, tudo na mesma.

O nosso problema não é uma estrada e gamar 30 euros a cada desempregado. O nosso problema vale várias centenas de mil milhões de euros.

Reformas nem uma. O Governo já nem ataca às cegas. Limita-se a esbracejar às cegas.

Doutor Jorge Jesus à parte



Este homem é, desde ontem, o meu treinador favorito.

Os verdadeiros culpados

O senhor Sócrates e o senhor Coelho, que agora são muito amigos, vêm agora dizer ao país que já encontraram finalmente as perigosas armas de destruição massiva responsáveis pelo estado em que se encontram as nossas contas públicas: os gananciosos e opulentos dos pobres e desempregados que andam a enriquecer com a generosa protecção social do Estado (o rendimento mínimo, por exemplo, atinge o exorbitante valor mensal de 187,18€) em vez de irem mas é trabalhar e fazer qualquer coisa de útil pela sociedade. Eu acho que faz todo o sentido. O hábito faz tudo e as principais vítimas da crise (pobres e desempregados) habituaram-se tanto à sua precária condição que agora se tornaram em verdadeiros viciados na auto-flagelação, tendo incentivos fortíssimos para, além de vítimas, serem igualmente os seus próprios carrascos. Acho, portanto, que tudo o que o homem do estupefacto amarelo escrever a partir de agora neste post acerca dos supostos verdadeiros culpados desta crise, é, claro está, um triste exercício negacionista de branqueamento do holocausto económico causado pelos perversos dos desempregados.

Culpado nº1 e Culpado nº 2

As políticas orçamentais devem ser contracíclicas, gastando-se pouco quando a economia cresce e gastando-se muito quando uma economia decresce (para suprir a falta de procura do sector privado em tempos de crise). No entanto, apesar de Cavaco e Guterres terem governado quase sempre o país em período de prosperidade económica e de convergência com a média europeia (no tempo do Cavaco chegou-se a atingir taxas de crescimento económico de 7,5% e no tempo do Guterres chegou-se aos 4,8%), fizeram exactamente o contrário do recomendado por qualquer manual básico de macroeconomia: o Cavaco chegou a ter défices orçamentais de 5,8% e o Guterres défices de 4%. A partir de 2002 (governos de Durão Barroso, Santana Lopes e Sócrtaes), primeiro com a a adesão a uma moeda (o euro) demasiado forte para a estrutura da nossa economia, e depois em 2008 com a crise internacional do subprime, fez com que a partir daí o crescimento económico fosse anémico ou mesmo negativo. Neste contexto de recessão, políticas orçamentais expansionistas (como continuaram a ocorrer) seriam racionais, mas como Cavaco e Guterres não deixaram aos seus herdeiros nenhum fundo de maneio, os défices orçamentais e a dívida pública gerada atingiram valores insustentáveis.

Como tenho que voltar ao trabalho e fazer qualquer coisa de útil para a sociedade, deixarei o resto para uma próxima posta.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Game Over

A nossa economia viveu hoje um dos dias mais negros das últimas décadas. Corte de rating por parte da S&P, queda brutal na bolsa, dívida com custos em máximos, etc.

E Teixeira dos Santos, que ia numa daquelas inúteis passeatas económicas a Angola, a dizer que Portugal vai fazer tudo para inverter a situação. O mesmo que dizia, há seis meses e em cima de eleições, que o défice ia rondar os 5% (ficou só no dobro). Para credibilidade, estamos conversados.

E agora vem Passos Coelho, numa manobra política muito bem sacada, tomar a dianteira e marcar uma reunião com o corrutpo Sócrates. É amanhã, e vão fazer um pacto para debelar o défice. Esperem, no mínimo, um aumento de impostos.

Quem vai pagar? Adivinhem.

Mas o que não deve ser feito é atacar exclusivamente este governo. Apostou num modelo económico de faz de conta, é certo. Gastou tudo em propaganda e manteve os privilégios dos muito grandes. Mentiu. Foi incompetente. Tudo isto é verdade.

Mas, no que toca às contas públicas, ninguém tem moral para falar. Durão, Ferreira Leite, Guterres, Cavaco, Sócrates, todos eles, falharam e falharam redondamente.

E agora vão-nos ao bolso para resolver o problema.

No que me toca, foda-se, eu pago a minha parte.
Mas quando, finalmente, esta merda deste eterno apertar do cinto vai tocar a toda a gente?

terça-feira, 27 de abril de 2010

A merda e o cagalhão

Defendem os patrões que seja alterado o regime do subsídio de desemprego.
Querem, em primeiro lugar, que não haja limite mínimo para o subsídio, podendo ser inferior aos 400 euros actuais. Depois, que o subsídio atribuído vá minguando à medida que o tempo passa, para "obrigar" o desempregado a procurar activamente o emprego.
É uma proposta tipicamente de direita que, de certo modo, faz sentido. Parece-me evidente que, no subsídio de desemprego como no rendimento mínimo, há muito abuso e nenhuma fiscalização. E que, de facto, muito boa gente prefere estar a receber subsídio do que a trabalhar.
Agora isto é apenas um lado da questão.
Os patrões insistem em manter Portugal como o paraíso dos salários baixos no que toca à Europa Ocidental. É claro que este modelo já deu o que tinha a dar. Agora produz-se na Europa de Leste - com profissionais também baratos e mais qualificados - ou no Oriente.
A verdade é que é esta política de exploração que leva a que alguém sem emprego prefira não trabalhar. Parece-me óbvio: trabalhar todos os dias para ganhar 450 euros ou não fazer nenhum e ganhar 400? Ou 350, já agora? A questão não pode ser vista só de um lado.
É também pelo facto de o trabalhador empregado ser explorado que torna tão apelativo ser um trabalhador desempregado.
Todos os estudos o mostram: Na Zona Euro, Portugal é o país que tem a maior discrepância, em média, entre quem ganha mais numa empresa e quem ganha menos. E qual a receita que nos dão para sermos competitivos? Cortar nos de baixo, como é óbvio.
Pagamos fortunas a gestores que - demonstram-no todos os indicadores - não sabem gerir.
Num país onde não existe a meritocracia e sim progressão rápida através de cunhas para uns quantos e exploração desumana e desmotivadora para outros, é óbvio que não pode haver produtividade.
Reduzir isto aos salários dos mais pequenos ou ao subsídio de desemprego, é apenas querer, como dizia Marx, engrossar as fileiras do "exército de desempregados". Permitir aos incompetentes que mandam continuar a viver à grande, a gerir mal. Alguém há de pagar.

Ou "Este dia lindo de liberdade quase nos faz esquecer os restantes 364 dias de Fascismo Económico"

Devíamos mandar abater as pessoas que dizem...

..."assim também é calor a mais".

Sinto-me velho quando...


... vou buscar uma velha máquina de escrever à arrecadação e o meu puto me pergunta, "pai, onde é que isso se liga?".

... o meu filho, depois de ter escrito "telemóvel" e "computador" debaixo das respectivas fotos (numa ficha de trabalho de Estudo do Meio sobre meios de comunicação), me pergunta "pai, o que é isto?", apontando para a fotografia de um telefone fixo.

... ao conversar com um colega meu mais novo sobre o regresso do vinil, este me pergunta «onde é que se vendem "leitores de discos"?».

segunda-feira, 26 de abril de 2010

25 de Abril para quando?

Nasci antes do 25 de Abril, e o que lhe tenho de mais próximo é a vivência dos meus pais. Estavam em Angola, então, com a minha irmã. Ao contrário de outros retornados, não perderam nada, porque não tinham nada para perder. Eram assalariados, a minha mãe costurava como ainda hoje, o meu pai havia ficado lá após terminar o serviço militar, e dava os primeiros passos de uma longa carreira como jornalista.
Não guardam mágoa, antes pelo contrário. O meu pai enfrentou a morte diariamente durante anos, sem perceber a razão pela qual o mandavam matar ou morrer. Também não romanceiam a coisa. Não são pessoas políticas. A minha mãe é vagamente PSD, o meu pai é um catavento que, nas últimas eleições, votou no Jerónimo. Mas ensinaram-me uma coisa: a respeitar.

Apesar de ter nascido quatro anos depois da Revolução, tenho grande respeito e carinho por esse dia.
Porque, nesse momento e nos anos imediatamente a seguir, queríamos algo. Estávamos a lutar por algo. Acreditávamos que íamos transformar isto, que o POVO podia fazê-lo, que o POVO era quem mais ordenava. Orgulho-me de um povo que, inculto, pobre e iletrado como era, acreditou que era possível tomar o destino nas suas mãos.
Orgulho-me de um povo que ocupou terras por trabalhar, que obrigou os ricos a fugir para o Brasil, com as suas malas cheias de dinheiro e sangue inocente. Que veio para rua e que acreditou em coisas tão simples, tão belas e, talvez, tão irrealizáveis.
Orgulho-me porque, então, havia uma consciência colectiva de que havia um desígnio nacional, que juntos poderíamos ser alguém, recuperar a dignidade, tornar este país um lugar melhor e mais justo. A esta distância, não falo necessariamente de ideologia. Foi feito mal ou foi feito bem, cada um terá o seu lado, e não é isso que me importa agora. Mas havia algo, havia lados, havia crença, havia acção.

Não esta merda.

Hoje ouvi o Aguiar Branco a citar Lenine. E vi Sócrates e Cavaco encherem a boca a falar de Abril. Deu-me vontade de vomitar.
Estes e outros que tais, os Lellos, os Alegres, os Passos Coelho, toda essa escumalha, foram esses e outros que tais, que venderam os ideais de Abril. Não em troca de outros ideais. Em troca de dinheiro, de poder, de aparências, de nada.

Somos uma sociedade igualmente iletrada, inculta, miserável. Mas com plasma e carrinho novo.

Façam o que quiserem. O povo legitima-vos com o voto. Mas não conspurquem um dia tão lindo ao falarem nele. Não vale a pena. Escolham lá a merda do BMW novo e desamparem-me a loja. Foda-se.

domingo, 25 de abril de 2010

Túnel? Não, polvo.

Pinto da Costa, presidente do único clube da primeira divisão portuguesa condenado por corrupção desportiva, obteve mais uma vitória jurídica.
Depois da questão de Hulk, esse superjogador que continua a liderar a tabela dos jogadores com mais perdas de bola do campeonato, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) veio, tal como na questão do túnel, dar razão ao papa, anulando a decisão da Liga.
Neste caso, a questão era o castigo ao papa, que o suspendia enquanto presidente e o impedia de falar de assuntos relativos ao futebol. Isto por o senhor ter passado das marcas e ter largado as suas bufas orais quando não devia.
E qual o argumento do órgão da FPF - essa sumidade da sabedoria jurídica que equipa o steward a um membro do público? Que o senhor havia falado enquanto presidente da SAD e não do clube (ou vice-versa).

Creio que estamos conversados.

Continuem a chorar por causa dos túneis. Continuem a fazer vigílias. Continuem a fingir que o polvo agora já não vos pertence.

Nós continuamos a espalhar magia pelos relvados fora.

Here we go again...and again...

E pronto. Finalmente há decisão na novela mais longa desde a cena dos túneis.
Inês de Medeiros vai poder ir todas as semaninhas a casa, a Paris, para, como ela diz "escolher a comida das crianças". Em executiva. E a gente paga. Seis mil euros por mês.

E depois há outra história engraçada que veio esta semana no Correio da Manhã. Reza a história que a senhora queria era ser eurodeputada. Pediu que lhe metessem uma cunha no PS, mas recebeu a resposta de que era impossível. O motivo: tinha pouca história no PS comparada com as Edites Estrelas e as Anas Gomes desta vida, e os lugares elegíveis estavam todos ocupados com gente do aparelhómetro. Foi-lhe proposto, ao invés, que concorresse como deputada à AR. Aparentemente, o facto de morar em Paris não foi tido em conta. Pormenor engraçado: quem foi o intermediário nestas cunhas e pedidos entre Inês de Medeiros e José Sócrates? Um senhor chamado Rui Pedro Soares.

Depois, esta senhora parece a dupla Costinha/Bettencourt: enterra-se de cada vez que abre a boca.
E disse, em resposta a esta peça do Correio da Manhã - cujo conteúdo negou - disse a seguinte coisa: "não sei porque é que [José Sócrates] me convidou".
Nem eu, minha cara. Nem eu.

Continuando.
A senhora diz que ficou contente, não necessariamente com a decisão, mas por haver finalmente uma decisão. Porque, agora, "vai ter um fim esta campanha de enxovalhos".
Eu cá, por mim, faço a minha parte, e tenciono continuar "esta campanha de enxovalhos" as long as I can.
Outra coisa interessante: a votação sobre assunto ficou empatada, na comissão especializada. Como tal, foi desempatada pelo presidente da dita comissão. Quem? Ora nem mais nem menos que essa fabulosa personalidade da política e até da cultura portuguesa, chamada José Lello.
Ora aí está.

Para terminar, deixo-vos com mais uma fabulosa frase da senhora: "Os portugueses não têm nada a ver com o sítio onde eu moro".

Permita-me discordar, já que eu sou um daqueles que vai pagar SEIS MIL EUROS POR MÊS para a senhora ir TODAS AS SEMANAS a Paris EM EXECUTIVA para escolher a comida dos filhos e dar instruções à criada.

Desculpe incomodar, senhora deputada.

Numa palavra...


...RESPECT.

A Caminho

Mais uma noite mágica na Catedral. Estádio cheio, um ambiente absolutamente arrepiante que me emocionou, uma onda imensa vinda dos adeptos para a equipa, e vice-versa. Uma equipa que, apesar da festa antecipada que se fazia na bancada, conseguiu manter-se séria, concentrada, inspirada.
É tudo isto que faz uma grande noite. Para além de toda a emoção - o Glorioso atingiu o espectador um milhão esta época - a exibição foi, como diz JJ, merecedora de nota artística. Grandes golos, grandes jogadas, grande futebol, de uma equipa cuja qualidade vai ficar para a história.

Alguns destaques:

Pablito Aimar - com a expulsão (que imbecil foi o coveiro do Olhanense!) teve todo o espaço do mundo para mostrar o seu grande futebol. Grande exibição, coroada com um golo.

Cadozão - mesmo ainda meio coxo, fez o quarto hattrick da época. E ainda falhou uns quantos.

Di Maria - provavelmente o melhor em campo. Quando está confiante, faz miséria com as suas fintas. Um golo e várias assistências. Dá gosto pagar bilhete para ver um jogador assim.

Fábio Coentrão - a cada jogo que passa se torna mais jogador. Mais uma grande exibição.

Ainda não estamos lá. Mas a justiça e a glória está a chegar.

CARREGA BENFICA!!!

sábado, 24 de abril de 2010

Pátria, Pátria, Pátria

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Há músicas e bandas...

...que me fazem querer mudar-me para a California e que me lembram a razão pela qual a música é, tão só, a coisa mais fixe do mundo.



Um bom fim de semana para todos, onde quer que estejam.

O Historiador e o Monstro


“A contradição entre as culturas, o genocídio cultural e o triunfo do grupo portador da cultura técnica e literariamente mais atrasada deixaram marcas na maneira de ser portuguesa: intolerância religiosa, chauvinismo ideológico, tendência para identificar a nação com um credo único. E, simultaneamente, um permanente cepticismo em relação aos ideais, uma legitimação tácita da hipocrisia e do oportunismo, uma permanente desconfiança em relação à inovação cultural, sempre suspeita de implicar riscos para a segurança do Estado e para a unidade moral da Nação.” Esta análise subversiva sobre a portugalidade (a qual subscrevo inteiramente) foi escrita pelo historiador, José Hermano Saraiva. Não deixa de ser irónico que este profissional da memória tenha aparentemente esquecido o seu próprio passado enquanto ministro de um regime com uma marcada “tendência para identificar a nação com um credo único” e “uma permanente desconfiança em relação à inovação cultural, sempre suspeita de implicar riscos para a segurança do Estado e para a unidade moral da Nação”. 25 de Abril Sempre, Fascismo só às vezes.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Give me something to die for


Alguém disse um dia que a sua pátria era a sua língua. O insight até não é mau mas é traçado a pinceladas demasiado grossas. Se os espanhóis ou os marroquinos nos invadissem, não seria certamente a defesa da palavra "adjudicatário" ou "enciclopédia" que me faria esboçar a mínima reacção de resistência. Porém, se eu sentisse ameaçada a possibilidade de continuar livremente a exprimir as mais belas caralhadas na língua de Camões, como "cum caralho", "não me fodas" ou "conaça", não hesitaria em defender a puta da minha pátria, rebentando os colhões desses invasorzecos de merda com umas forquilhas bem afiadas. Ou seja, o que define verdadeiramente a minha pátria é o conjunto dos meus impropérios. O imigrante paquistanês que ao final de um dia de trabalho desabafar "cum caralho, hoje ninguém quer flor" é, sem qualquer sombra de dúvida, meu compatriota.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Nice boys don't play rock and roll

Um gajo pode conhecer mil bandas muito mais brilhantes mais tarde e renegar as bandas politicamente incorrectas da nossa adolescência mas se por acaso cometermos o erro de voltar a ouvir os discos proscritos dez anos depois, o flashback é inevitável: são e serão sempre os discos das nossas vidas. É precisamente isso que acontece com os Guns. Por mais que hoje racionalmente identifique na banda os vícios típicos deste produto hardrock (caindo muitas vezes num virtuosismo kitsch de gosto extremamente duvidoso), o que é certo é que as minhas emoções rapidamente estalam com o verniz da ideologia: são e serão sempre uma grande banda de rock and roll. Bem sei que o passado nos prega partidas e que esta apreciação não é alheia às recordações mágicas da adolescência, do magnífico concerto em Alvalade a que fui com o Bastard, do junkie a apertar o garrote e a chutar-se mesmo à frente dos nossos olhos inocentes de 14 anos, da magnífica primeira parte dos então ainda semi-desconhecidos Soundgarden e Faith No More, destes últimos a colocarem o estádio inteiro a mandar garrafas de plástico ao ar ao som do portentoso "Epic", do também portentoso tralho do Axl Rose, ao som do genial "It's so Easy" do "Appetite for Destruction" (sendo, julgo eu, o álbum de estreia que mais discos vendeu), que pôs todo o pessoal a rir-se e do consequente amuo da vedeta Rose no "Civil War" (what's civil about war anyway?), qualquer coisa do género "Se continuam a lançar objectos pelo ar, nós voltamos para casa, acho que ali ao fundo não me estão a ouvir seus estúpidos de merda", e nós completamente a cagar para os seus insultos infantis porque estávamos a viver os melhores momentos das nossas vidas. Mas independentemente do desconto sentimental que necessariamente terá de se fazer a esta análise crítica, o que é verdade é que aqueles filhos da puta eram excelentes escritores de canções (ver, lá em baixo, o delicioso "Garden of Eden", que não me deixa mentir) e que se não fosse o hype deles no início dos anos 90 nunca o Grunge teria chegado ao mainstream, e que se não fosse o hype do Grunge nunca teria havido a resposta britânica do hype da Britpop: nada mau para o currículo de uma banda habitualmente banida pelos críticos musicais.
Bastard, para quando o "Appetite" nos "Discos da minha Vida"?

terça-feira, 20 de abril de 2010

A bem da nação


Walter Bom, um dos seis doentes que ficou cego após a troca de medicamentos no Hospital de Santa Maria, foi há umas semanas atrás entrevistado (em conjunto com a sua mulher) por Judite de Sousa. Entre outras questões, a jornalista da RTP perguntou ao casal se a cegueira do Walter tinha afectado a sua relação conjugal. Perante este facto, exorto à RTP para o seguinte: se querem efectivamente prestar um serviço público à nação, coloquem em horário nobre programas de verdadeira pornografia (a da Bayer, a sexual, a badalhoca) em vez da mais repulsiva pornografia emocional disfarçada de jornalismo.

Obviamente II

David Beckham, esse moço que ofereceu à esposa um dildo forrado a diamantes, diz que está cansado de fazer sexo.


As recentes dificuldades do senhor em sentar-se não têm qualquer relação com esta notícia.

Obviamente

Luis Figo, essa ganda cena, diz que ver o Messi a jogar é como ter um orgasmo.

Sim, isso e ganhar 750 mil euros por comer um pastel de nata e um abatanado.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

E ainda há quem não queira crer

Peter Pan(k)

We're not the first, I hope we're not the last
'Cause I know we're all heading for that adult crash
The times is so little, the time belongs to us
Why is everybody in such a fucking rush?

Make do with what you have
Take what you can get
Pay no mind to us
We're just a minor threat

We're just a minor threat

Early to finish, I was late to start
I might be an adult, but I'm a minor at heart
Go to college, be a man, what's the fucking deal?
It's not how old I am, it's how old I feel

Take your time
Try not to forget
We never will
We're just a minor threat

We're just a minor threat

Inquérito aos clientes do Vodka Atónito do sexo feminino


Só por curiosidade: quando acabam de pôr gasolina sacodem também as últimas gotinhas?

Evangelho segundo Bukowski


"Podem perguntar a quem quiserem: eu não sou pessoa muito simpática, nem sequer conheço a palavra. Sempre admirei o mau da fita, o fora-da-lei, o filho da puta. Não gosto daquele tipo de gajos que andam sempre de barba bem feita e têm gravata e um bom emprego. Gosto de homens desesperados, homens de dentes estragados, a alma estragada e de modos estragados. São gajos cheios de surpresas e de explosões. Também gosto de mulheres ruins, dessas putas bêbadas e sempre a preguejar, que andam com as meias torcidas e a maquilhagem borrada. Interessam-me mais os perversos que os santos. Com os vagabundos sinto-me eu à vontade, pois sou também um vagabundo, não gosto de leis, de morais, de religiões e de regras." (Charles Bukowski, in South of no North)

O socialista papa-hóstias

Zé Sócrates, também conhecido como o corrupto, o trafulha, ou o robalo alado, decidiu dar tolerância de ponto aos funcionários públicos, aquando da visita do CEO dos pedófilos a Portugal. Ah, tolerância de ponto quer dizer, em português, que não se trabalha.
Quanto ao argumento oficial, desconhece-se. Não sei se a ideia é os funcionários públicos irem todos ver a missa do papa, ou coisa assim. Só sei que, em momento de grave crise económica, com discursos pomposos de competitividade e de dar o exemplo, esta medida é completamente absurda.
Em termos de fé, considero tudo admissível e tudo digno de respeito. Não sou como aqueles tótós da associação de ateus, que querem convencer os outros que têm razão - tornando-se igualmente evangélicos insuportáveis de vão de escada.
É só mais um sinal da grande convicção esquerdista de Sócrates, que faz o Guterres corar de inveja.
E visto que Sócrates faz parte da grande aliança do bem esquerdista que terá (terá mesmo?!) Manuel Alegre como ponta de lança nas presidenciais, talvez fizesse sentido este dizer alguma coisa acerca do assunto.
Digo eu.
Mas enfim, alguém que está a enfrentar isto com um sentimento absolutamente tacticista e que, ainda assim, vai ter um resultado humilhante nas urnas, não se poderá dar ao luxo de perder os votos das beatas (que obviamente vão todos para o santo Cavaco).

Já falta pouco...

...para ser feita, oficialmemte, justiça, à melhor equipa portuguesa desta época. De longe, de muito longe.





CARREGA BENFICA!!!

domingo, 18 de abril de 2010

Não te deixes cair em tentações melancólicas, porque rebolar no lodo só serve para te sujares

Quando falam comigo, e a mim só me apetece cortar os pulsos com o cartão de contribuinte, gostaria de poder responder, simplesmente, "está gente", e nada mais ser preciso dizer.

Quando me entorno pela rua em direcção ao meu trabalho, sentindo-me triste e vazio como uma poça de mijo, gostaria de responder ao meu chefe, simplesmente, "está gente, não me apetece trabalhar mais neste emprego de burocratas impotentes, metam as deliberações e despachos e viagras pelo cu acima", e nada mais ser preciso dizer.

Hoje, se a morte por engano bater à minha porta, gostaria de responder, simplesmente, "pode entrar", e nada mais ser preciso dizer.

sábado, 17 de abril de 2010

Sem título

1. No Carnaval a minha filha mascarou-se de Pippi das Meias Altas, toda orgulhosa de encarnar uma das suas personagens favoritas. Quando chegou à festa de Carnaval da escola, reparou em pânico que todas as suas colegas sem excepção estavam mascaradas de princesa. Começou imediatamente a chorar e não parou enquanto não improvisámos um disfarce de princesa também para ela.

2. A maioria do povo alemão, obedecendo escrupulosamente a ordens superiores e imitando o exemplo dos amigos, vizinhos e colegas, colaborou activamente nos crimes nazis, denunciando, humilhando, perseguindo e exterminando judeus, ciganos, doentes mentais, homossexuais e qualquer gente potencialmente considerada inimiga do regime.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

José Passos Coelho

É verdade que o Passos Coelho é um liberal fanático, capaz de privatizar a própria avó se descobrisse que o Estado era o seu principal accionista. Mas é também justo reconhecer que ao menos a sua candidatura tem a virtude de ser transparente, assumindo logo à partida que quer deslocar o PSD ainda mais para à direita. O Sócrates tem concretizado políticas quase tão liberais como as que Passos Coelho advoga (anunciando, neste PEC, a privatização do CTT, da EPAL e do bigode do Mário Nogueira) mas mantém, hipocritamente, uma retórica de "esquerda democrática", de "fortalecimento do Estado" e de "reforço do investimento público", para ver se ainda engana alguns eleitores genuinamente de esquerda, genuinamente papalvos. Por mim, entre o filho da puta liberal assumido (sem ofensa para os filhos da puta) e o filho da puta liberal que não sai do armário, prefiro sinceramente emigrar para a Grécia e abrir lá uma fábrica de cocktails molotov.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Figo com robalos

É uma receita algo bizarra, mas enfim, já vi coisas piores.

Atão não é que a malta do Tagusparque - entre eles o boy de Sócrates Rui Pedro Soares - foi mesmo acusada de corrupção? Diz que é por terem, na prática, usado dinheiros públicos para comprar o apoio público de Luis Figo (na imagem, com a sua esposa e fazendo uma belíssima interpretação de Tony Ramos) ao Grande Chefe Sócrates.
Contrataram o senhor para promover o Tagusparque. Pagaram-lhe a módica quantia de 750 mil euros para fazer um filme de promoção da empresa, filme esse que acabou por nunca ser exibido. Só mais uns pormenores: a maioria do capital do Tagusparque é público, e a empresa controlada por boys do Sócrates; e o negócio - os 750 mil euros - incluíam a manifestação pública de apoio de Figo.

É para isto que anda a servir o nosso dinheiro.

O Figo não foi acusado porque, segundo o Ministério Público, não sabia que a empresa que com ele fez a negociata era pública, do Estado. E, segundo a lei, este conhecimento ou desconhecimento é relevante. É que entre entidades privadas, a coisa deixa de ser crime: é equiparada a um artista ser convidado para prestar um serviço, fazer uma aparição, como contratar o Pequeno Saul para a festa de Natal da empresa.
Mas deixa, mais uma vez, às claras, a fibra deste menino. Quando era pequeno era benfiquista, depois passou a lagarto (esta até se entende, porque jogou lá, pronto). Depois, fez birra e forçou a saída do Sporting e assinou por dois clubes italianos, sempre à busca de quem lhe dava mais guita. Depois trocou o grande Barça pelo merdoso Real Madrid, lá está, por causa da guita. E agora, vem dar apoio a Sócrates, lá está, a troco de dinheiro. Está tudo dito.

E quanto ao PS? Vamos continuar a fingir todos que aquela malandragem fazia isto tudo e o controlador Sócrates não sabia de nada? Acordou, um dia, deu de caras com o Figo numa esplanada, e este especialista em política nacional decidiu apoiá-lo. Pois.
E mesmo que Sócrates não soubesse (looooooool), que raio de partido é este que recorre a estes esquemas nada menos que mafiosos para angariar votos? Vão ser só os tipos do Tagusparque a pagar as favas (as if)?
Ninguém do PS sabia? Ninguém é responsabilizado?
Vai ser tudo destruído, abafado, como as escutas do Sócrates?   

Perante tudo isto, e olhando para as sondagens, de facto vejo que Portugal tem mesmo aquilo que merece.

Mas isto mete-me nojo.

Toma lá morango

Tanto queria o Bloco e o Amarelo que o Pateta..., perdão, o Poeta Alegre fosse a mãe de todas as esquerdas (sendo muito generoso com este termo e incluindo aqui o PS) e, afinal, querem ver que o Alegre vai ficar a falar sozinho com o Louçã?

Ora agora veio falar o Capoulas Santos. Sim, aquele gajo com ar de saloio que achávamos esquecido num tacho qualquer. Afinal o gajo é qualquer coisa como vice-presidente da comissão política do PS, o que quer que isso seja, mas soa a importante.
E o que veio dizer esta alta personalidade?

Passo a citar:
"Custa-me a acreditar que o candidato do PS possa vir a ser o candidato do Bloco de Esquerda".
" Com um CDS consolidado, com um sector do eleitorado radicalizado à esquerda e com um 'liberal' à frente do PSD, o bloco conservador e liberal acantona-se ainda mais à direita, deixando completamente vazio o espaço eleitoral da esquerda moderada e do centro, o tal que só quem o conquista ganha eleições em Portugal".

Ora aí está o PS. O próprio Sócrates - e o ressabiado Soares - não o diriam melhor.

À direita está um "bloco conservador e liberal". À esquerda, um perigoso e taliban "eleitorado radicalizado".

E por onde vai andar o PS? Pelo meio, claro. Meias-tintas, borra-botas, torradinha do meio, aquela aparadinha.

Estas eleições já me estão a dar um gozo tremendo.

Nem o nosso morno amigo Amarelo, que tinha sonhos húmidos com o Alegre, esperaria que fosse o PS a não querer a suposta "união de todas as esquerdas".

Se já o pateta Alegre não levaria o meu voto, nem quero pensar na alternativa que o PS possa vir a propor.

Isto vai ser giro...

O zarolho afinal é tonto

Vieira da Silva é um gajo tão bom, tão inteligente e tão versátil, que serviu tanto para ministro do Trabalho como para ministro da Economia, como agora.
Veio agora o senhor entrar na demagogia em voga, e dizer que lhe causa perplexidade os preços da gasolina. Mais, pressionado pelo jornalista da SIC, diz que vai pedir à Autoridade da Concorrência que investigue.

Em primeiro lugar, eu devo ser um génio, porque acho que sei a razão pela qual pagamos dos combustíveis mais caros da Europa. É porque temos a carga fiscal sobre os combustíveis mais cara da Europa. Pois. Portanto, o nosso ministro escusa de apontar o dedo às empresas - que roubam descaradamente porque o Estado tranquilamente o permite - e pensar que o Governo tem aqui uma grande influência.

O Governo nada fez para alterar esta situação. Minto, tomou uma medida fabulosa. Aquela de meter nas autoestradas aqueles placards que dizem os preços das várias bombas. É pena é ter-se gasto dinheiro em sinais xpto, que apresentam todos o mesmo preço. Alguém há de ter ganho dinheiro com esta inutilidade.

Por último, causa-me alguma perplexidade que um ministro tenha de pedir uma investigação a uma entidade - a Autoridade da Concorrência - que existe exactamente para fazer isso.
Mas afinal é preciso pedir? Ah, então percebe-se...

Das razões do orgulho luso


"Passou muito tempo, D. Afonso Henriques já era rei de Portugal. E aconteceu ir visitar o conde D. Gonçalo de Sousa na sua quinta de Unhão. O conde foi tratar de preparar comida para o rei e o rei aproveitou o tempo a fazer amor com a condessa (a doneá-la, isto é, fazê-la dona, diz o texto). Quando o conde voltava com a comida, viu aquilo e não gostou. Limitou-se a dizer: "Levantai-vos, senhor, ca adubado o tendes" (levantai-vos, porque a comida já está pronta). O rei pôs-se a comer; mas, enquanto o fazia, o conde mandou tosquiar a condessa e devolveu-a a casa dos pais dela, montada numa besta de albarda e virada para o rabo do sendeiro. Uma outra versão acrescenta um pormenor: obrigou-a a meter burrela com todos os rapazes que viviam lá em casa." (José Hermano Saraiva, in História concisa de Portugal)

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Infinito Particular


Quando surge um momento de silêncio numa conversa entre dois amigos que falam em português, morem eles em Lisboa, Paris, Luanda, Newark, Maputo, Londres, Rio de Janeiro, Joanesburgo, Madrid, Bissau, Luxemburgo, Berlim, Berna ou Cidade da Praia, sejam eles ricos ou pobres, de pele clara ou pele escura, novos ou velhos, de esquerda ou de direita, crentes ou ateus, nativos ou emigrantes, aristocratas ou burgueses, cristãos ou islâmicos, fascistas ou democratas, santos ou assassinos, da cidade ou do campo, do Prog Rock ou do Punk, existem sempre os mesmos 87,3% de probabilidade da conversa ser retomada com a seguinte frase: - Então, e o nosso Benfica?

O Crer e os ressabiados

Noite mítica na Luz. Desta vez não fui, mas fartei-me de sofrer.

Uma primeira parte muito boa do Sporting. Equipa muito bem montada para não deixar jogar o Benfica, e saindo rápido no contra-ataque. A equipa entrou muito mais tranquila do que o Benfica, que de facto tinha muito mais responsabilidade nesta importante partida. O Benfica entrou mal, nervoso e manietado pelo Sporting, e fez uma primeira parte mázinha, e só conseguiu ir equilibrando as operações mais perto do intervalo. Ainda assim, poucas ou nenhumas oportunidades. Uma de João Pereira e umas bolas paradas do Benfica, nada de mais. O domínio era verde, mas o 0-0 ajustava-se perfeitamente.

Depois do intervalo, tudo se alterou. Ao contrário do que aconteceu em Liverpool, desta vez Jesus voltou a estar inspirado. A entrada de Aimar revolucionou o jogo. Para além do próprio "El Mago" (que classe, quando está inspirado!), a equipa voltou dos balneários com a atitude certa, de que aquele era o momento de assumir que queria e podia ganhar o jogo. Carvalhal, que tão bem armou a equipa para controlar o Benfica, no início do jogo, não conseguiu reagir, e o jogo do clube submisso não se viu em toda a segunda parte.
E foi nesta segunda parte que se viu o Benfica, o Glorioso. Raça, crer, classe e inteligência, tudo o que uma grande equipa precisa de ter.
Depois deste jogo, duro em termos físicos e emocionais, o tão ansiado título fica claramente mais perto. Cada vez mais, eu acredito.

Alguns destaques:

Cardozo - é disto que o futebol é feito. Um jogador lesionado, praticamente a coxear, pediu para ficar mais um pouco em campo. O seu sacrifício, em prol do clube, deu aquele fundamental primeiro golo.

Ruben Amorim - um jogador que não sabe jogar mal e que, ontem, foi decisivo. A sua jogada, que deu o golo de Cardozo - semelhante à jogada em Marselha - fez ruir a defesa do clube submisso.

Luisão - jogou lesionado, dando o exemplo do grande capitão que é. Podia ter deitado tudo a perder no lance muito duro sobre Liedson, uma jogada que podia ter dado vermelho. Em tudo o resto foi o líder do costume.

Aimar - "El Mago" regressou, e em boa hora o fez. Revolucionou todo o futebol do Glorioso, com passes, desmarcações e fintas. O seu golo, beijando depois o símbolo do Grande, Grande Benfica, foi um momento mágico. O perfume do seu futebol encheu o estádio.


João Mortinho, Carlos Caralhal e Bostinha - mostraram que o Sporting não é só um clube submisso (sempre a lamber o rabinho ao papa, e obcecado com o mal do Grande Benfica). Além de submisso, continua a ser um clube Kalimero, que encontra sempre bodes expiatórios externos para as suas incompetências. Choram por causa do lance do Luisão. É uma entrada dura, para vermelho, mas que o Liedson - como jogador inteligentíssimo que é - soube acolher. É só ver ele olhar para o Luisão e meter a perninha a jeito. Desta vez, a "ratice" não funcionou.
Mas justificar a derrota por 2-0 do clube submisso com o árbitro é admitir que, de facto, com 11 contra 11 o Zbording não ia lá. E têm razão, o que só mostra ainda mais a sua incompetência. Enquanto os submissos continuarem nesta senda kalimera, de não assumir as suas responsabilidades - visto que a culpa é sempre de alguém, normalmente o árbitro - nada vai mudar. Por mim tudo bem. Enquanto continuarem obcecados com o Benfica e limparem o cuzinho ao Porto, quero mas é que se fodam.
Falam desse lance. Mas não falam das duas agressões do Miguel Veloso: uma a Kardec e outra a Ramires. Não falam do Carriço sobre o Éder Luis, na primeira parte. E também não falam do penalti do Grimmi sobre o Cardozo. Foi um lance de tal maneira limpinho que a biqueirada que o Cardozo levou o fez ser substituído por lesão. É assim, só vêem o que querem ver. Eu percebo.

Uma última palavra para todos os ressabiados deste país, os tripeiros corruptos e os seus vassalos lagartos:
Tomem lá com juros todos os gritos de prazer que tiveram com a derrota do Glorioso contra o Liverpool. Tomem, metam no cu e digam ao que cheira.
Ando há meses a ouvir submissos prometer que era neste jogo que nos iam tirar o título, e dá-lo ao Braga, que como sabemos é um clube muito querido pelos lagartos (tão querido que levaram no cu as duas vezes que com eles jogaram). O vosso campeonatozinho de merda jogava-se hoje, na Catedral, porque são tão inferiores e complexados que preferem que o Glorioso perca do que o vosso clube ganhe. É por isso que vos dói tanto, e é por isso que me dá tanto gozo. Estão a 26 pontos, e se isto continuasse levavam uma volta de avanço.



Parafraseando o grande Diego Armando Maradona: "Que la chupen y la sigan chupando".

terça-feira, 13 de abril de 2010

Os filhos de Vasco Granja


Não vos vou falar acerca do Cão dos Ornatos, provavelmente o melhor álbum Pop feito em Portugal nos últimos oitocentos e cinquenta anos. Quero apenas dizer-vos qualquer coisa sobre os últimos 26 segundos do álbum. De cada vez que ouço esta música (ouvir a partir dos 45 segundos), sinto-me triste por me terem arrancado a minha infância, as bombocas, o Ulisses 31, a inocência, o Zé Gato, o Citroen Diane a cair de podre do meu pai, os Soldados da Fortuna, a nota de 20 escudos que tirei às escondidas da carteira da minha mãe, as azedas amarelas, os cigarros de papel, o chão de alcatifa azul da minha casa, os meus amigos a gozarem comigo por eu ter que beijar uma rapariga num teatro da escola, as férias grandes, as apalpadelas às miúdas no jogo do quarto escuro, o Duarte e Companhia, a ingenuidade, o rafeiro do meu avô chamado Napoleão, as corridas de caricas, os Heróis de Shaolin, o bate-pé, o empreendedorismo com que organizávamos campeonatos de futebol complicadíssimos (cada um entrando com não sei quantas pastilhas gorila, que a equipa vencedora arrecadava), o ócio, os Afonsinhos do Condado, os io-iôs que nunca consegui jogar, o load aspas aspas e a merda do jogo que mesmo no fim não entrava, o Belle e o Sebastião, a puta das urtigas a queimarem-me a pele, o Tom Sawyer, os mil e um planos nunca concretizados para construirmos uma casa na árvore, as guerras de almofadas com o meu primo, acordar muito cedo a um sábado para passar a manhã a ver desenhos animados e a comer cereais, os sugos, o relógio vermelho digital que deixei esquecido num bebedouro e o espanto naif por algum tempo depois já não estar lá, a Samantha Fox, a bicicleta em segunda mão que o meu pai me comprou e que eu alugava nas férias de verão a uma rapariga em troca de um beijo na boca, a troca de cromos, as três covinhas, o sabor dos macacos do nariz, a Sabrina, as reguadas da directora com a menina dos seis olhinhos por termos sido apanhados a ver uma revista pornográfica e os meus amigos a explicarem-me que era assim que nasciam os filhos e eu a jurar a pés juntos que os meus pais eram incapazes de fazer essas porcarias, a Ana Faria e os Queijinhos Frescos.
Quando eu morrer não quero ninguém de preto, nem preces religiosas pela salvação da minha alma. Quando eu morrer quero apenas que todos os meus amigos cantem essa música. Final de Emissão.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Um gajo sente que está a fazer algo bem quando recebe um mail destes

"Ao pé de ti o Larry David e o violador de Telheiras são gajos porreiros. Mas quando morreres não te preocupes: pagarei a uns tipos para que alguém assista ao teu funeral. Cheers".

Payback time

Agora que a Grécia está de rastos, leio a notícia de que Portugal, isto é, os tugas, isto é, nós, vamos ajudar os coitados dos gregos. E para aqueles sentimentalistas parolos que aplaudem o facto de Portugal dar 700 milhões de euros à Grécia, tenho apenas uma palavra: Charisteas.

domingo, 11 de abril de 2010

Separados à nascença II

Separados à nascença

                                                                             

sábado, 10 de abril de 2010

Têm a certeza que as crianças de três anos são da mesma espécie do que nós?

- Pai, tens sangue nos pés?
- Não, filha, porque é que perguntas?
- É que estás com meias.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Extracto de um livro que, por este andar, será publicado em 2015, perante fraca reacção, acabando por tornar-se um clássico de culto e que, em 2025, fará de mim um gajo rico. E velho.

- Tu precisar é de mandar umas.
- Lá estás tu. Eu mando umas. Mando várias. Mando as que quiser. Eu estou numa relação, sabes?
- Sim, sei. E?
- Que parte disto é que tu não percebeste?
- Man, tu é que parece que não percebes. Eu explico. Aquilo que tu tens com a Rosa...é Rosa que ela se chama, né?
- Tás fartinho de saber que sim, que se chama Rosa.
- Ok. a Rosa. Aquilo que tu tens na Rosa não é uma mulher. Tu tens duas coisas, na tua relação com a Rosa, e nenhuma é uma MULHER. Tens uma mãezinha e tens um buraco, perdoa-me a expressão.
- O quê?!
- Calma, eu explico. Não tinhas uma miúda há muito, muito tempo. É absolutamente normal que queiras um buraco. E, sendo um verdadeiro pussy como és, também querias uma mamã. E a verdade é que, na tua relação com a Rosa, valorizas, de facto, mais a parte da mãezinha. Porque a parte do buraco, se te conheço, não é assim tão importante. Deves bater 3 punhetas por dia, portanto...
- Foda-se!
- Vá, deixa-te disso, estás entre amigos. Pareces um morto.
- Desculpa?
- Pareces um morto-vivo. A vida está-te a sair pelo piço, a bateres dessa maneira.
- Eu não bato 3 punhetas por dia.
- Bom, não sei, hás de saber isso melhor que eu.
- Finalmente disseste alguma coisa certa. Estava difícil.
- E o teu problema é esse. Concentraste numa única relação, num único ser, a mãezinha e o buraco - nem sequer se pode chamar realmente sexo, lamento.
- Por que raio não?
- Sexo é sujo, meu. É bom, é marado. Não tem nada a ver com pijamas, e...bules de chá,...e merdas dessas.
- Fico contente por ver que tens empregue a tua vívida imaginação a construir ficções acerca da minha vida sexual.
- Não te preocupes, eu não tenho muito que fazer. Então, como estava a dizer, tu, em vez de teres uma mulher, ou varias mulheres, juntaste buraco e mãezinha num único objecto.
- Mesmo que tenhas razão, e claramente não estou a dizer que tenhas algum tipo de razão, qual é o problema de juntar o apoio de uma mulher e...bom, buraco, como tu dizes?
- Só uma coisa. Tu por acaso quererias ir para a cama - e a Dona Marília que me perdoe - com a tua mãe?
- Foda-se!
- Ora aí está. Algumas coisas não se misturam, homem! É como o azeite e..., bom, tu sabes.
- Água?
- Não creio que seja água. Era outra coisa...
- Creio mesmo que é água.
- Bom, não é importante. Tudo isto para te dizer que, de facto, trataste das tuas necessidades básicas. Well done, mostraste ser um cidadão relativamente competente.
- Dizes isso como se me estivesses a insultar.
- E basicamente, é isso que eu estou a fazer. Precisas de algo na tua vida, man. Podias fazer bungee-jumping, ou comprar uma mota, ou merdas assim. Mas, digo-te por experiência, as mulheres são muito mais interessantes. E há uma data delas por todo o lado.
- Ok, ok. Suponho que não valha a pena explicar-te que pessoas diferentes procuram coisas diferentes. E que aquilo que funciona para ti pode não funcionar para mim.
- E eu suponho que não velha a pena explicar-te que a tua mão vai estar para sempre agarrada ao teu braço - a não ser que tenhas um acidente esquisito - e que podes brincar com ela sempre que quiseres, tipo quando fores velho, e aproveitar agora para viveres sensações a sério.
- Mas que raio de obsessão é essa com a masturbação?! E tu, garanhas, não bates? Nunca bateste?
- Meu caro, este teu amigo que aqui vês não esgalha o pessegueiro desde 2000.
- Foda-se, a sério?!
- No punheta since 2000.
- Uau...bom, confesso que isso é impressionante.
- Quer dizer, bem, houve uma vez em 2001. Mas foi a única excepção, por isso acho que não conta.
- O que aconteceu? Estavas preso numa ilha deserta?
- Não. Havia uma miúda, a Débora, lembras-te da Débora? Da universidade?
- Claro. Era bem boa.
- Foda-se, era a gaja mais gira e mais boa da escola. Enfim, eu andava atrás dela há bué, mas ela andava a dar-me tampa. Depois, consegui convencer o meu pai a emprestar-me o carro, e isso, vê bem aquela puta, foi o suficiente. Bom, por mim tudo bem, comê-la em casa ou no banco de trás era-me um bocado igual. O problema foi que comecei a ficar nervoso. Já tinha em cima um ano de quarentena de punhetas e, na verdade, não estava numa boa fase com as gajas. Resumindo, andava numa seca prolongada, e tinha medo que, ...bem, que a pistola disparasse antes do tempo. Percebes?
- Ah, a velha estratégia de tirar a bala da câmara.
- Ora nem mais. E pronto, antes de a ir buscar, um esgalhanço e pronto.
- E correu bem?
- Bom, na verdade não foi um esgalhanço que me tenha ficado na memória. Não é uma coisa tipo "aaaaaaaaah, aquela bela punheta em maio de 2001, o ar estava límpido, a minha mão nunca esteve tão bela", e o caralho.
- Não, urso, se correu bem o encontro.
- Pá, nem por isso. Não me deixou fodê-la.
- Isso é que é pior.
- Podes crer. E era bem boa, a gaja. Vi-a há pouco tempo. Trabalha no Minipreço ao pé do Marquês, e agora tem um cu do tamanho de uma casa. O karma é fodido.
- E então, desde então...nada.
- O cinco contra um acabou nessa noite. E não me arrependo. Sabes, não desperdiçar torna um tipo mais forte, mais vivo. Tens que estar alerta, vivaço. Mantém-te na caça. Se não caçares não comes.
- E tens comido, garanhão?
- Pá, vou comendo. Sabes que descobri que há muitas gajas que são exactamente como nós, ou melhor, como eu. Assim que descobres isso, e se tens a sorte de ser um Adónis como eu, é só facturar.
- Alguma vez não resultou?
- Claro, isto não é matemática. Há sempre aquelas que querem mas que acham que têm de fazer o jogo. Que isso torna as coisas mais interessantes. Mas nem sempre é assim, e às vezes simplesmente perco a paciência. E a verdade é que, desde 2000, não passei dois meses sem dar de beber ao burro. Mais que isso e as bolas começam a doer-te.
- Porra, tu realmente és um poço de sabedoria. Devias escrever um livro, sabias?
- Iá. Vou fazer isso. Mas em vez de o publicar vou apenas mandá-lo para tua casa, para aprenderes umas coisas.
- Não acho que isso seja uma boa ideia.
- Atão porquê?
- A Rosa está a pensar mudar-se lá para casa. E isso podia gerar um incidente.
- Oh, meu, estás tão fodido...

No Sex, No Drugs and Rock and Roll

O jornalismo musical é engraçado. Parece que as overdoses do Doherty e as desintoxicações da Winehouse estão a vender pouco, então toca de promover o produto invertido: rock and roll evangélico dos "Flor Caveira" with no sex (sim, é verdade, o pessoal dos Pontos Negros, ainda solteiros, orgulha-se de ainda não terem perpetrado o pecado da fornicação) and no drugs (que para eles é uma categoria muito lata que inclui o tabaco, o álcool e o tiramisú). Estranhamente, tem resultado, gerando o maior hype musical português sobrevalorizado desde as mamas de "As Doce". É certo que há algum interesse no exercício quase subversivo de Tiago Guillul (considerado o mentor do movimento), pastor numa Igreja Evangélica em Moscavide, em cantar "tu beijas como uma freira", misturando de uma forma ambígua sexo com religião, virtude com pecado e Rock and Roll. Mas se um gajo remover todo o embrulho conceptual, ignorar toda a histeria mediática e simplesmente ouvir os discos, rapidamente nos apercebemos que os Pontos Negros até não são maus de todo mas são um plágio demasiado descarado dos Strokes para poderem ser levados a sério; o Tiago Guillul resume-se a um lo-fi barulhento e sem inspiração; o João Coração parece o filho adoptivo do João Peste com o Padre Fanhais; o Samuel Úria até faz um produto Pop relativamente bem conseguido, mas sem nunca descolar do lugar comum; e apenas o B-Fachada, apesar da sua voz mais esganiçada e desafinada do que a do Bob Dylan a cantar bêbado a seguir a uma operação a um tumor na garganta, consegue alguns momentos mais criativos e interessantes (como o que abaixo se apresenta). Será certamente coincidência mas, dos cinco nomes da Flor Caveira que referi, o B-Fachada é o único que é agnóstico.

Bastard sem filtro: uma noite em LX

Ora muito bem.
A primeira missão era encontrar um café ao pé da Cidade Universitária, para ver a bola e sair a tempo de ir ver o Bandido à Aula Magna.
A primeira tentativa foi infrutífera. Até havia lugar, mas a quantidade de idiotas vestidos à morcego-tuga deu-me logo a volta ao estômago.
Acabei por aterrar numa coisa abjecta chamada Capas Negras, um snack bar detido por um lagarto que, claramente, prefere ter a casa vazia a ver o Benfica ganhar. Cheguei às sete e meia, e o tipo fez questão de nos dar meia hora de O Preço Certo, só para chatear, enquanto ia treinando os seus dotes agoirentos, com total desrespeito por 80% da sua clientela àquela hora, benfiquistas como eu. O que vale é que já estou treinado nestas merdas, e até ia tranquilo para o que desse e viesse.
Lá chegou o camarada Amarelo, que se aguentou surpreendentemente com o ritmo das imperiais, que foram chegando mais rápido que os golos do Liverpool.
A meio do jogo entrou um casal cigano. Ela, coitada, cheia de paciência. Ele, embriagado, naquele estilo de quem está à desculpa de qualquer razão para esfaquear meia casa. Em meia hora, confirmou todas as minhas teorias acerca dessa nobre raça: conseguiu incomodar toda a gente, embriagar-se ainda mais, mandar vir com a mulher, cantar e, basicamente, deixar meio café a chegar-se mais à porta. Foi colorido.
O palhaço do dono, um azeiteiro de nome Luciano, ou coisa assim, lá se coibiu de gritar os golos do Liverpool, embora lá fosse mandando a sua laracha.
O mesmo não se pode dizer de dois caras de cu que, num café cheio de benfiquistas (ok, eram betinhos universitários do Benfica) tiveram a distinta lata de gritar, alto e bom som, os golos dos ingleses. Devem ser daqueles ressabiados que ontem foram adeptos do Liverpool desde pequeninos. É por estas e por outras que me vai dar um gozo do caralho se formos campeões. Se eu estivesse a 11 ou a 23 pontos, como estes tristes estão, estava era bem caladinho, mas o complexo de inferioridade e a raiva ao Benfica é maior, e finalmente tiveram, numa época inteira, uma desculpa para deitar cá para fora o seu reles veneno.
Aguardem-nos que vamos a caminho, cambada de complexados.

Quanto ao jogo em si.
Só vi até ao 3-0, portanto só posso comentar até aí.
Entrámos muito bem no jogo, a mandar no jogo, mostrando calma e classe. Eles foram lá uma vez e golo. Foram lá outra, idem. É a diferença de uma equipa eficaz, com experiência internacional de alto nível. Na Luz, desperdiçámos golos atrás de golos. Na parte do jogo que vi, o Liverpool não falhou uma chance, apesar da nossa boa atitude.
Depois, desta vez Jesus inventou. David Luiz à esquerda é estúpido, meter o Sidnei a frio a marcar o Torres num jogo desta importância só podia dar merda. E, claro, o Júlio César voltou a mostrar que não serve para o Benfica, para quem ainda tinha dúvidas (não era o meu caso). Por outro lado, demonstrámos demasiado respeito pelos ingleses. Ao 2-0 era mexer logo na equipa e meter gente na frente. Depois, deixámo-nos papar no contra-ataque, o que é um clássico do Liverpool.
Em suma, caímos de pé. Perdemos porque eles foram muito mais eficazes, não tivemos a sorte do jogo, o nosso guarda-redes não guardou nada e porque o nosso treinador não teve a sua noite mais feliz. Acontece aos melhores. Agora é hora de olhar para o campeonato, aquilo que todos os benfiquistas desejam.

Quanto ao Foge Foge Bandido.
Ha, a Aula Magna. Uma sala tão gira e que pareceria feita para concertos, com pequenas excepções: o facto de um gajo ter de estar sentado, não poder beber nem fumar. Foda-se, já estive em igrejas mais liberais que isso. Enfim.
O público, uma estranha mescla da geração 30/45, todos razoavelmente alternativos. 90% tinha óculos, aposto que todos têm blogs e a grande maioria gasta bué guita em roupa e procura na internet porno com animais.
But what do I know?
Na fila vip para levantar convites vi a Mafalda Veiga. Estranhamente, desta vez não parecia um troll e não tinha o João Pedro Pais atrelado. O que é bom.
Nas cadeiras atrás de nós, decorria um engate manhoso que, por mais que tentasse, não consegui evitar ouvir. Isto porque o gajo, um morcão de fatinho e sotaque do puorto, não parou de falar o tempo todo. Foi mandando várias pérolas. As minhas preferidas foram quando disse que "quando disseste que não conhecias o Bandido fiquei com medo, porque isto é um bocado alternativo" e a outra quando se queixou, durante 15 minutos de concerto, que "não se percebe bem o que ele está a dizer. É pena, porque o que ele faz bem é escrever, o melhor dele são as palavras". Foda-se, vai para casa ler um livro, então. E CALA-TE, CARALHO!
Ha, e além disso o engate dele era bem pobrezinho. Coitado, tanto trabalho para comer aquilo...

Enfim, ha, é verdade, houve música.
Bom concerto. Não é fácil transpor aquilo para o palco, mas funcionou. É claro que o Manel Cruz é, provavelmente, o tipo mais brilhante a aparecer na música portuguesa em muitos anos, e isso vê-se no seu som, cheio de boas ideias. Umas resultam, algumas não, mas é sempre interessante. Valeu a pena.

O Amarelo ofereceu-me a prenda de anos, atrasada, o último da Charlotte Gainsbourg.
Quase me fez esquecer o Glorioso.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

This town is too much for me

Um bom programa para um dia de férias passa por não fazer a ponta de um corno o dia todo, depois ver o meu Benfica e ir a um bom concerto.
É isto que vou fazer hoje. Melhor que isto só se tivesse dado um salto à praia, o Benfica jogasse na Luz e, algures entre as 13 e as 18, houvesse sexo com a senhora Bastard.

Esta noite pode correr de duas maneiras, e isso tem muito a ver com o que o Glorioso conseguir fazer.

Se passar a eliminatória, o concerto de Foge Foge Bandido até pode consistir em covers de Meatloaf e Richard Clayderman tocados ao serrote. Seria um triunfo à mesma.

Se o Benfas ficar pelo caminho, o cabrão do Bandido vai mesmo ter de se esforçar.

Puta Melómana II ou 291 razões para me enforcar com os atacadores dos meus sapatos amarelos se algum dia tiver cancro em ambos os ouvidos

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quarta-feira, 7 de abril de 2010

Férias

Quando estou ausente do trabalho só há uma coisa de que sinto falta: de que a minha vida não seja sempre assim.

Correcção

No razoavelzito post do Amarelo, mais abaixo, sobre o capitalismo português, às tantas é dito que basta comprar as pessoas nos lugares certos.
Mas isto, que faz sentido num mundo corrupto em teoria, não é necessário no mundo corrupto tuga (desculpem o pleonasmo).
Em Portugal não é preciso comprar ninguém. Toda a gente se oferece, e toda a gente está em saldos. Mais, muitas vezes as pecinhas do mecanismo fazem favores até sem que se lhes peça; mais, sem exigir ou esperar dinheiro, recusando até qualquer pagamento. O tuga quer ajudar os poderosos para se sentir na mesma equipa que eles, para poder dizer aos amigos que ajudou este e aquele tubarão, e claro, "mas não digam a ninguém".
O tuga admira os corruptos e anseia pelo dia em que qualquer jornal o aponte como arguido numa qualquer história cabeluda.
O tuga é um pequeno burocrata que odeia os gajos que vão pela berma e passam à frente, mas apenas porque é demasiado cobarde para fazer o mesmo.
A corrupção é o sonho molhado dos portugueses.

Melting pot

Nas duas últimas semanas, ouvi ainda mais música do que o habitual, talvez por, na semana passada, ter passado umas horas a brincar aos dj.
De qualquer forma, e pensando um bocadinho nestas últimas semanas, chego a uma lista que me está a causar alguma perplexidade:

- Silver Jews - The natural bridge e American Water
- Bill Evans - You must believe in Spring
- Carlos do Carmo - um best of que saiu há uns tempos no Público
- Pulp - The Peel Sessions
- Flamenco Beats - colectânea magnífica de música cigana de faca e alguidar
- Astor Piazzola - best of
- O Rappa - Sete Vezes
- The Specials - Guilty till proved innocent
- The XX - The XX
- Raimundos - Só no forevis
- Blur - Live at Hyde Park
- Zé Mário Branco - Resistir é Vencer
- Mozart - Dom Giovanni
- Ramones - It's Alive
- Debussy - Iberia, La Mer, Prélude

Perante este panorama, impõe-se a questão: sou eclético ou apenas uma puta melómana?

Portuguese do it better II

Portuguese do it better


O capitalista português inventou uma forma avançada de capitalismo a que chamou de "capitalismo sem risco". A receita é simples: fazer negócios com o Estado, obter o monopólio do bem público que transacciona, receber do Estado uma renda fixa e transferir o risco na sua totalidade para o parvo do contribuinte (resulta sempre porque em média o parvo do contribuinte tende sempre a votar nos partidos que defendem qualquer política considerada "avançada"). O capitalismo português conseguiu assim optimizar o processo de acumulação de capital, obtendo o máximo de lucro com o mínimo de custos pessoais: como não desperdiça irracionalmente o seu esforço em práticas de concorrência, empreendedorismo e de inovação inúteis, pode concentrar quase todos os seus recursos na acumulação de lucro puro. É certo que a sua eficiência ainda não é total, uma vez que para obter as rendas do Estado ainda tem que dispender algum esforço no tráfico de influências políticas. Mas depois das pessoas certas nos lugares certos terem sido devidamente compradas, o esforço do capitalista português torna-se meramente residual. Os mais cínicos dirão que o capitalismo português é, assim, de tal forma compensador que o capitalista português tem poucos incentivos para arriscar o seu capital na produção de bens para exportação em mercados agressivos e concorrenciais (agravando, assim, o desequilíbrio da nossa balança comercial e das nossas contas públicas). Como eu abomino, por princípio, qualquer forma de cinismo, repudio, por completo, esta posição. Quando eu for grande também eu quero ser um capitalista português.

terça-feira, 6 de abril de 2010

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Não há almoços grátis


Quanto mais se escrutina o passado de Sócrates, menos se escrutinam as suas decisões políticas presentes. Quanto mais se escrutina o carácter de Sócrates, menos se escrutina o seu programa político. Quanto mais se falar das irregularidades dos projectos de engenharia de Sócrates ocorridas há vinte anos atrás, menos se falará da insensibilidade social do governo de congelar o rendimento mínimo atribuído aos mais pobres dos pobres ao mesmo tempo que se mantêm os benefícios fiscais da banca. Quanto mais se falar do Freeport, menos se falará da irracionalidade económica de diminuir a curto prazo o défice orçamental privatizando empresas públicas altamente lucrativas (e vendendo-as a um preço muito abaixo do seu valor de mercado) para que a médio prazo o défice aumente ainda mais pela perda dessas avultadas receitas. Quanto mais se falar da licenciatura do Sócrates, menos se falará da dispendiosa e opaca manutenção das parcerias público-privadas (que servem apenas para desorçamentar as despesas do Estado e alimentar os nossos grupos económicos parasitas que só sabem viver sob a protecção do Estado), ao mesmo tempo que se congelam os salários dos funcionários públicos, mesmo daqueles que ganham menos de 500€ por mês. Quanto mais se falar do apartamento do Sócrates da Rua Castilho, menos se falará da decisão de adiar uma vez mais a taxação das mais-valias bolsistas, ao mesmo tempo que se impõe um tecto para despesas da Segurança Social a desempregados e pensionistas. Enquanto se falar do acessório, menos se falará do essencial. E assim sendo, quanto menos ideológico for o debate sobre o PS, mais rapidamente o poder cairá nas mãos do partido da oposição a ele igual ideologicamente.